domingo, 25 de abril de 2010

Salazar, por Fernando Pessoa














António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...

Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
Mas ninguém sabe porquê.

Mas, enfim, é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé:
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.


29-03-1935
Fernando Pessoa (Poeta, 1988-1935)

7 comentários:

RENATOGOMESPEREIRA disse...

Em 1935 ainda nem sequer se pensava na Guerra colonial...eh!eh1
fernando pessoa vivia na africa do sul...ou não?
O 25 de Abril de 1974 foi imediatamente suspenso, pelo PREC e só recomeçou após o 25 de Novembro de 1975...
O Prec apenas existiu para virar tudo à esquerda e conseguir colocar nas ex-colonias regimes e governos- Pró -soviéticos...

Anónimo disse...

AAB...

publicaste qualquer coisa sobre aqueima...mas não consigo aceder...
que sepassa?

adelino braga disse...

Boa noite,
Pensei que tinha publicado, quando o que fiz foi guardar como rascunho.
Agora já está publicado, obrigado pelo aviso.

adelino braga disse...

Boa noite Renato,

Fernanado Pessoa foi para a África do Sul aos 7 anos , mas regressa definitivamente a Portugal aos 17 anos.
Numa primeira fase, Fernando Pessoa sente-se seduzido pela ditadura Salazarista, mais tarde aparece a satarizar o regime despótico e o ultranacionalista de Salazar.
Quanto ao resto estamos de acordo.

Renato Pereira disse...

mas regressou à africa do sul...depois... foi engenheiro...lá..e tem heterónimos de lingua inglesa...

" O Mostrengo"

Está no fim do mar...

Cidade do Cabo

Anónimo disse...

Pessoa's earliest heteronym, at the age of six, was the Chevalier de Pas. Other childhood heteronyms included Dr. Pancrácio and David Merrick, followed by Charles Robert Anon and Alexander Search, succeeded by others. Translator Richard Zenith notes that Pessoa eventually established at least seventy-two heteronyms [17]. According to Pessoa himself, there were three main heteronyms: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos and Ricardo Reis. The heteronyms possess distinct biographies, temperaments, philosophies, appearances and writing styles [18].

Fernando Pessoa on the heteronyms

Anónimo disse...

Pessoa died of cirrhosis in 1935, at the age of forty-seven, almost unknown to the public and with only one book published in Portuguese: "Mensagem" (Message). He left a lifetime of unpublished and unfinished work (over 25,000 pages manuscript and typed that have been housed in the Portuguese National Library since 1988).