Outrora, antes da construção da A28, dos seus acessos e das instalações da Agros, a pequenada fazia vários percursos pedonais à revelia da autorização dos seus progenitores pelos lugares mais bucólicos e pitorescos da nossa terra. Um dos percursos preferidos era por uma viela que se iniciava no Adro da Igreja do Nosso Senhor dos Milagres, ao lado da casa da Dª Isaura e continuava por caminhos e carreiros até aos pinhais e campos de Quintela e Cassapos.
Era a aventura e a descoberta a fervilhar nas nossas cabeças, eram os sardões, as sardaniscas ou as cobras que atravessavam e apanhavam sol nos dias de canícula nos carreiros que calcorreávamos, era a tentação dos ninhos que descobríamos nos mais variados locais dos pinhais, eram as amoras que comíamos deleitadamente, era a redobrada emoção da descoberta.
Outras vezes levávamos uma bola para brincar ou jogávamos num qualquer espaço que encontrássemos a jeito.
Nessa altura existia uma casa onde viviam um miúdo deficiente motor que se deslocava com a ajuda de muletas, que se chamava Zé Macedo, meu amigo, a mãe e o avô. Lembro-me que ao pé dessa casa existia um lavadouro público alimentado por uma linha de água natural (que pena que esse lavadouro não faça parte do nosso património histórico, devidamente enquadrado num percurso pedonal) e perto um pequeno planalto com algum afloramento rochoso, mas com algumas condições para se poder dar uns chutos na bola.
Numa tarde soalheira de Verão, não resistimos à tentação de fazer um jogo nesse pequeno campo ao pé da casa do Zé. Naquela altura o Benfica era a equipa da moda, como agora é o Porto, e era com orgulho que gostávamos de ser comparados com os então ídolos da bola, eu sou o Eusébio, eu sou o Coluna, eu sou o José Augusto, eu sou o Jaime Graça, etc....eu sou avançado de centro, eu sou extremo-esquerdo, eu sou médio,...enfim..., era uma alegria.
Entretanto irrompe do meio de nós o Zé: ..."tenho uma taça para a equipa que ganhar o jogo", e mostrou-a, era de facto uma taça!
Sei que jogámos, não me lembro se o jogo chegou ao fim ou não (às vezes não chegava...), não me lembro quem a ganhou, mas que havia uma taça em disputa, havia. Ó Zé quem ganhou a taça?
4 comentários:
Lino
conheci o " Zé da China" - é assim a sua "alcunha"... assim comu tu és o Lino "Cabreira"...e quase todos na freguesia tem "nomes de familia"...- dizia que conheci o José macedo um dia na sede do CDCA...aquela ali na casa da TI Florinda e do Ti Joaquim pais do Afonso - ao Bom Sucesso...Nessa altura ele tinha um carrinho motorizado azul claro onde se deslocava...ao que vim a saber deslocava-se neel para a estação dos caminhos deferro e ia para um local da Areosa no Porto onde havia um centro para deficientes...
Era uma vida dura... e dificil...ele morava do lado de lá da variante, junto à Fonte Celta como sabes - próximo dos lavadouros publicos que foram destruidos...Nesses lavadouros vi muitas mulheres a lavar roupa e eu vim a primeira vez para a Freguesia em 16 ou 17 de Julho de 1975...
Creio que foi na altura em que tu foste ao FAOJ buscar os primeiros livros da "nossa" Biblioteca de Argivai..ele era e é louco por livros...devora-os...embora hoje seja mais selectivo...
Vi logo nele um espirito aberto ao conhecimento, e cheio de "manha", muita manha..eh! eh!!! mais tarde fui percebendo de quem tinha sido colega na escola e vi que afinal a "manha era imagem de marca da escola primária de Argivai da altura"....ih!ih!
O Zé inicialmente andava...mas foi atacado de polio e deixou de andar...não foi de nascença...
Com a sua inteligência, não sei por que caminhos andou...mas poderia ter estudado ..pois vontade não lhe faltou...
..ele é um exemplo ainda vivo de que as instituições sociais não são instrumentos de ascensão pessoal e social..antes pelo contrário...quer antes do 25 de abril, quer fundamentalmente após...e muito menos oserão as IPSSs...quando muito são entidade de manutenção do periclitante status quo...
Creio que foi na altura em que tu foste ao FAOJ buscar os primeiros livros da "nossa" Biblioteca de Argivai...
do texto anterior parece inferir-se que foi em 1975...mas não é isso que queria dizer . mas sim que conheci o JM já em 76 ou 77...pois que o CDCa nasceu em 1976 e a biblioteca creio que teve origem pouco mais tarde...podiasver isso no arquivod da UDCA pois constam lá a requisição dos livros doados pelo FAOJ...
no blog Zarolho insurjo-me contra as cotas para as mulheres entre outras discriminações... O Taylorismo e outros métodos de produção condicionaram o ser humano e escravizaram-no...As engenharias, grossomodo percursoras da NORMALIZAÇÂO,(medidas padrão emetodos de produção mais ou menos universais)nõa tiveram em conta arealidade davida e lançam no ostracismo, seres válidos eprodutivos, quer segundo o critério da idade, quer das suas faculdades... tenho lido umlivro chamado " a Avaliação das funções" relacionado com a justiça na remuneração do trabalho..um dos factores chave no melhor salário é a hioerarquia e não a qualidade ou quantidade de produção do trabalhador...logo para quê essa imcapacitação para o trabalho?
"paraplégico"...
Lino trata-se de um mero preciosismo, mas para não melindrares os "citrinos" mais recentes que se julgam o supra sumo do sumo dos sumos dos cursos privados e superiores que os papás e os contribuintes pagaram...
muda o palavrão para "deficiente motor"...Assimfica mais de acordo com a "salada de frutas"...
Um abraço !!!
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