segunda-feira, 3 de abril de 2017

PORTUGAL E A EUROPA

A Comunidade Económica Europeia, precursora da União Europeia, foi fundada há 60 anos. França, Itália, Alemanha Ocidental, Bélgica, Holanda e Luxemburgo criaram com o tratado de Roma um mercado único europeu. Este espaço foi-se alargando e em 1986 Portugal tornou-se o 11º membro. Em boa hora Portugal aderiu. Éramos um país rural e de emigrantes, e com o auxílio dos fundos comunitários de mais de cem mil milhões de euros tivemos a oportunidade de modernizar o país, alavancar milhares de projetos empresariais, formar milhões de trabalhadores, modernizar e contruir infraestruturas rodoviárias, escolas, universidades, hospitais, aeroportos, etc.
Pese toda esta ajuda europeia, que corresponde a dez mil euros por português, os nossos governantes não souberam direcionar a maior fatia desses biliões na criação de riqueza, apostando no investimento reprodutivo e de bens transacionáveis. O setor secundário não mereceu a devida atenção dos governantes, tendo estes acenado com a mirifica vantagem da via da terciarização, como se fosse sustentável um país com a dimensão de Portugal viver dos serviços. Agora ouvimos falar recorrentemente da necessidade da reindustrialização, sendo que há umas décadas era uma ideia ostracizada, quando a razão do tempo era gastar biliões em investimentos de fachada.
A UE não tem culpa que os governantes portugueses não tenham aplicado em maior escala os fundos europeus em investimento reprodutivo. A intenção da UE foi de ajudar Portugal, para que hoje estivéssemos em condições de competir na esfera global, não pela mão-de-obra barata mas sim pela incorporação competitiva de tecnologia e ciência dos nossos bens transacionáveis.
Os postulados dos arautos da desgraça dizem que os nossos problemas se resolveriam com a saída da UE e do euro, com a criação de moeda própria, são simplistas e precipitados. É uma opinião que não partilho, porque já vivemos fora da UE e com moeda própria e nem por isso eramos um país sem dificuldades, bem pelo contrário. É uma proposta de retrocesso e isolacionista que nos ficará muito cara. O custo de vida disparará, o preço dos bens essenciais subirão inevitavelmente, assim como as prestações dos créditos à habitação e a prestação de outros bens. Tudo o que importamos, irá ficar mais caro. A vantagem que antevejo seria a possibilidade da desvalorização da moeda própria e assim podermos ser mais competitivos nas exportações e os emigrantes ganhariam, pois os seus depósitos valeriam mais na conversão para uma moeda fraca.
Nem tudo corre bem na EU, bem pelo contrário. Foi criada para pacificar uma região secularmente fonte de conflitos - o que foi conseguido - e também para dar força económica e política aos estados europeus, que sós não teriam relevo internacional perante as potências político-económicas existentes e as que entretanto emergiram no cenário mundial.
A UE deve transformar-se no sentido de uma europa dos cidadãos. Os europeus devem senti-la, não como uma organização de funcionários bem pagos, mas como uma organização democrática, onde as suas instituições tenham a legitimidade proveniente do voto dos seus cidadãos nos vários patamares de decisão, em eleições, e em que os seus atos sejam constantemente escrutinados, derrubando barreiras com uma cultura de responsabilidade e solidariedade entre todos.
Penso que a solução para a crise portuguesa e da UE se resolve com mais integração e com a implementação de uma solução federal. Haveria orçamentos nacionais como agora, mas a UE deveria ter um orçamento federal, não de 1% do PIB como até agora, mas um orçamento federal que permitisse realizar uma política de unidade e de solidariedade com responsabilidade entre as nações, que poderia andar nos 15% do PIB como acontece nos Estados Unidos da América.
Portugal deverá dar o seu contributo com o seu exemplo e estar do lado da solução a nível nacional e europeu. Continuar como estamos, com a navegação à vista, sem uma estratégia nacional de médio e longo prazo, não é sustentável. Sem reformas estruturais Portugal não tem futuro para as atuais gerações que sobrevivem com dificuldades e muito menos para as vindouras. Os portugueses estão anestesiados, com falta de vontade e coragem política reformadora, vivendo resignados na vã esperança sebastianista de que alguém fará o que nos compete fazer.

Sem comentários: